A chegada de uma frente fria alterou a programação da 46ª Semana Internacional de Vela de Ilhabela. Em função dos ventos fortes, chegando a rajadas de 35 nós, as regatas da classe HPE previstas para esta terça-feira (16) foram canceladas. Para os velejadores, foi um descanso bem-vindo após a disputa da regata Ilha de Toque-Toque por Boreste, que seguiu noite adentro para algumas equipes.
Fechando a raia, o Guará 3 foi o último a chegar ao Yacht Club de Ilhabela, às 22h, após mais de 10h30 no mar, enfrentando momentos sem vento perto de Toque-Toque. O esforço foi recompensado, já que a equipe ficou com o segundo lugar na classe Multicascos, atrás do Maré XX.
“Essa foi minha primeira participação em regata na vida, sou iniciante na vela. Os mais novos, como eu, estão aprendendo com os mais experientes”, contou Valdeci Donizete, comandante do Guará. “Numa condição como a que tivemos ontem, com tantas horas na água, as dificuldades vão aumentando ao longo do tempo, o desgaste aumenta e realmente precisamos ter muito concentração e boa vontade para concluir a prova. Muitos barcos desistiram, mas nossa tripulação decidiu terminar a prova a qualquer custo, e conseguimos.”
Os veleiros Clássicos também enfrentaram um desafio. Alguns, como o Henriette II, tiveram que desistir da disputa, e aproveitaram a terça-feira livre para descansar. O barco, projetado em 1946 na Holanda para disputar uma regata comemorativa do pós-guerra, de acordo com pesquisas do comandante José Paulo de Paula e Silva, chamou a atenção no domingo, durante o desfile de barcos. Na vela, um grafite em homenagem à Marielle Franco, ativista política defensora dos direitos humanos, morta em 2018.
“A idéia de fazer a homenagem nos remete à situação de polarização política que o País está vivendo, desde 2013. Escolhi Marielle porque acho importantíssimo, quem ela era é uma questão absolutamente emblemática em relação a questões que transcendem ideologias, são questões humanitárias”, explicou Zé Paulo, alemão criado em São Paulo e morador de Ilhabela há 33 anos. “A gente sabia que ia gerar uma polêmica bastante grande. Mas valeu muito a pena. Marielle é muito maior que o seu assassinato. É o que queremos transmitir, sem nenhuma agressividade ou posicionamento fundamentalista.”
Estreia bem sucedida
Os barcos da classe Mini Transat, estreantes na Semana Internacional de Vela de Ilhabela, foram projetados para suportar as condições adversas das longas travessias oceânicas. Mas mostraram que também velejam bem no vento fraco.
“Como o Mini Transat é um barco leve e largo, consegue velejar bem mesmo só com o embalo do mar, sem vento aparente. Ele reage rápido. Ainda há alguns detalhes para adaptar, mas é um barco muito seguro, e a classe deve atrair mais velejadores”, destacou o comandante José Carlos Crispim, do Daddy-O. “Nós largamos com um bom vento, mas correnteza contra. Como o barco é rápido, precisamos dar um bordo antes da largada. Depois perdemos altura porque a correnteza nos jogava para cima do baixio, e decidimos ir pela praia. Ganhamos algumas posições até a ilha de Toque-Toque, quando o vento oscilou e parou. Pegamos um mar chato, picado. Mas o barco se mostrou muito bom nessas condições, apesar do cansaço.”
Dia de descanso e festa para os velejadores
No final da tarde, os velejadores foram recepcionados com uma canoa de cerveja, uma tradição da Semana Internacional de Vela, e show especial da George Moon Band. A banda foi o destaque da programação do Race Village no dia anterior. A novidade agradou os participantes, que puderam relaxar dentro do clube antes das primeiras provas de barla-sota, previstas para a quarta-feira (17).
“A regata de Toque-Toque foi muito cansativa porque começou com pouco vento e muita correnteza. Tivemos que fazer muitos bordos, cambando muito para chegar até o baixio. Com o tempo isso vai cansando a tripulação. Mas hoje estamos aproveitando a folga, estamos todos descansando e curtindo o show, está uma delícia”, elogiou Felipe Ferraz, comandante do veleiro Beleza Pura 2, da classe RGS.
O barco está em segundo lugar, empatado em pontos perdidos com o BL3 Urca. Para o comandante, as próximas regatas exigirão paciência. “Para amanhã estão previstos ventos fracos, novamente. Será um dia de regatas muito táticas, e precisamos ficar bem juntos do BL3 Urca. A partir de quinta-feira deve entrar um vento leste mais forte, aí vai ficar mais divertido.”
Previsão de regatas na quarta-feira
Todas as classes devem voltar à raia para as regatas barla-sota, disputadas boia a boia, nesta quarta-feira (17). “Hoje o dia foi de ventos muito fortes. A gente já estava monitorando a frente fria via satélite e com o meteorologista que presta serviço para nós. E a previsão de que a frente fria chegaria nesta madrugada se confirmou. infelizmente não conseguimos realizar hoje a prova para a classe HPE. Amanhã as regatas estão previstas para as 12 horas, vamos ver se teremos boas condições para todas as classes”, explicou Cuca Sodré, da comissão de regatas da Semana Internacional de Vela de Ilhabela.
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